Lendo a biografia de Elis Regina, “Nada
será como antes”, do jornalista Julio Maria, pude me aproximar de uma das
minhas intérpretes favoritas e conhecer o pano de fundo da História do Brasil
nos idos anos 60 e 70, podendo compreender como a ditadura influenciou a música
no país.
Eu não vivi na era de Elis, quando ela
faleceu em 1982, eu era criança, só tenho lembranças das músicas e da
interpretação forte de que só ela sabia pôr em suas canções.
O livro é gostoso de ler, de um gênero
que não costuma me interessar, não tenho o hábito de ler biografias. É escrito
de maneira linear, sem deixar dados da vida pessoal da artista fora do
contexto.
O livro lançado em 2015, por um dos
mais respeitados críticos musicais do país, Julio Maria fez muitas entrevistas
para compor o livro, artistas ou não, que conviveram com a intérprete. Seu
segundo marido, César Camargo Mariano, se recusou a falar.
Nada será como antes é a primeira
biografia de peso publicada no Brasil após a polêmica das biografias não
autorizadas.
A história da cantora começa com Elis
ainda menina, em sua terra natal, no Clube do Guri em Porto Alegre, contando
sobre a fase no Beco das Garrafas, endereço emblemático da MPB no Rio de
Janeiro, o sucesso na TV, os festivais, as turnês nacionais e internacionais,
os garimpos por músicas de cada disco com artistas que queriam compor para
Elis, tornando cada disco uma história.
Intérprete de músicas de João Gilberto,
Milton Nascimento, Adoniran Barbosa, Tom Jobim, Fagner, Ivan Lins, João Bosco,
cujas músicas se transformavam em obras primas inesquecíveis em sua voz.
O livro registra seus altos e baixos,
seus amores e humores – seu primeiro marido Ronaldo Bôscoli brincava que ela
era ciclotímica, o que talvez hoje possa ser compreendido como bipolar.
O livro aborda a Elis Regina musical, a
Elis Regina intérprete, a Elis Regina mãe, a Elis Regina insegura, a Elis
Regina competitiva, a Elis Regina instável, a Elis generosa com músicos e
amigos. Aborda os romances, dos conhecidos com Ronaldo Bôscoli e César Camargo
Mariano, aos pouco divulgados como com Nelson Motta, e alguns amores platônicos
pela cantora.
A artista tinha talento excepcional,
muito reverenciada pelos músicos não só como uma cantora, mas como
instrumentista. Seu instrumento era a voz, ela recriava as canções, podendo ser
considerada também compositora.
Sua insegurança levou a cantora a ser
muito competitiva profissionalmente, querendo sempre ser a voz mais marcante e
se possível a única voz feminina, sendo descritas várias situações de
mesquinharias, discussões, palavras duras, permitindo traçar um perfil mais
humano da artista, não à toa apelidada Pimentinha.
A morte a mitificou, e sendo morte
trágica, isso se tornou instantâneo. Com mistura de cinzano com cocaína, após
anos sendo a careta e exigindo que seus músicos se mantivessem longe das drogas,
após viagem ao Chile, passa a usar a droga, numa vida pautada pela grandeza artística,
ciúmes, humor instável, emoções sempre exageradas, levou ao fim a carreira da
voz poderosa.
“Nada será como antes” é Elis Regina em
forma de livro.