terça-feira, 28 de dezembro de 2010

AOS MEUS ALGOZES: ROBERTO E RICARDO

A infância e a juventude dos anos 90 já conheciam o chamado “bullying”, hoje tão falado, tão criticado, com tantos profissionais da educação falando sobre isso na TV e na internet, em palestras sobre educação... Será que o Roberto e o Ricardo se lembram disso? Será que entendem o que é o “bullying”? Será que conseguirão identificar nos seus atos o que faziam comigo na 7ª e 8ª série do ensino fundamental – 1º grau na época? Os apelidos me incomodavam, eu me sentia ofendida, diminuída. Eu que já tinha tantos motivos para me envergonhar, para me sentir inferior aos outros...
Em muitos momentos que me lembro dos meus amigos de infância, quase sempre me lembro do choro contido, algumas vezes nem tanto, das vezes que desejava não ir à escola, do meu medo do retorno das férias... A única que sabia disso era minha mãe, com quem eu dividia meus segredos. Ser alvo de piadas na escola era algo que me constrangia muito, mas minha mãe nunca fez nada que realmente tenha me ajudado a acabar com aquele tormento, como ir a escola reclamar para a direção... Apenas me dizia para que eu não ligasse e que aquilo era bobagem, que eu não era nada daquilo que eles diziam e que eu ia crescer, que meu corpo ia se desenvolver como o das outras meninas. Realmente eu me desenvolvi plenamente, tardiamente em comparação ás outras adolescentes. Mas as mágoas dessa época, provavelmente não vão se apagar nunca do meu coração e encontrar pessoas que estudaram comigo nem sempre é uma alegria, pois ser lembrada daquelas “brincadeiras” ainda me incomoda.
Como alguém pode achar graça quando alguém diz um apelido que diminui alguém? Como pode alguém rir da pobreza de outra criança? Eu era pobre, muito pobre. Minha mãe negligente, muitas vezes eu não tomava café da manhã, porque minha mãe não se levantava para preparar o café da manhã, como as outras mães (pelo menos eu acho que as outras mães faziam isso). Eu comia merenda da escola. Não era ruim, era uma comida feita na escola, simples, mas era bem feita, a maioria comia, mas a Ana comia por estar com fome mesmo. E quantas vezes foi motivo de chacota, por comer a comida da escola?
Eu tinha poucas amigas, outras crianças excluídas, com quem eu ficava no recreio. Ficávamos afastadas dos outros, conversando. Nunca falávamos sobre as ofensas ou sobre nossas mágoas e raivas. Nunca uma defendeu a outra. Cada uma tinha sua dor, sem dividir.
Muita coisa eu só entendo agora, quase 20 anos depois, precisei atingir a maturidade para compreender. Precisei estudar e me formar professora, para ler e aprender sobre o “bullying”.
Dedico esse artigo ao Roberto e Ricardo, os meninos de outrora que hoje são homens, pais de família, os autores das humilhações que sofri. E dedico também para pessoas interessadas em poupar crianças de se lembrarem da época de escola com tristeza, ressentimento e vergonha, para que possam saber mais sobre o assunto, saber como agir.

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