sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

OPERAÇÃO LAVA JATO


Essa operação, conduzida pela Polícia Federal, está em andamento desde 2014 e tem desmantelado um grande esquema de corrupção na Petrobras. Estima-se que o volume de recursos desviados dos cofres da Petrobras, maior estatal do país, esteja na casa de bilhões de reais.

Para começar, escreverei sobre a origem da operação: A Polícia Federal recebeu uma denúncia no ano de 2008 de um empresário que afirmava que certo grupo de doleiros tentou lavar dinheiro em sua empresa. Com a condução das investigações, foram identificados quatro grupos chefiados por doleiros. Descobriu-se também que esses grupos utilizavam uma rede de lavanderias e postos de combustíveis para movimentar os recursos ilícitos. É desse fato que surgiu o nome da operação. Acredita-se que o esquema da Lava Jato tenha duração de pelo menos dez anos, mas ele poderia estar em prática desde 1997.

Doleiros: são operadores do mercado paralelo de câmbio. Os doleiros eram apenas uma parte desse grande esquema de corrupção. Eram eles que intermediavam as operações ilícitas, entregando as propinas e também realizando a lavagem de dinheiro (ou seja, fazendo o dinheiro sujo parecer limpo).

Nesse esquema, grandes empreiteiras organizadas em cartel pagavam propina para altos executivos da estatal e outros agentes públicos. O valor da propina variava de 1% a 5% do montante total de contratos bilionários superfaturados. Esse suborno era distribuído por meio de operadores financeiros do esquema, incluindo doleiros.
Como a Petrobras é uma empresa pública, os contratos de empresas privadas com a estatal devem ser submetidos a um processo prévio de licitação, em que as empresas concorrem para oferecer o menor preço para conseguir um contrato. Mas, no caso das empreiteiras, o que realmente acontecia por baixo dos panos era um jogo de cartas marcadas, em que antes do fim do processo licitatório a Petrobras e as empresas se cartelizaram em um "clube" para definir os termos dos contratos: o valor total, a taxa de propina a ser cobrada e o vencedor da licitação, em benefício privado e em prejuízo dos cofres da estatal. Pelo menos 21 empresas são investigadas de integrar o clube de empreiteiras. Para que o esquema funcionasse, era necessário que somente as empresas cartelizadas participassem das licitações – e para isso, era necessário cooptar agentes públicos para o esquema. Vários funcionários da Petrobras se omitiram em relação ao cartel e o beneficiaram ativamente ao longo dos anos.
Os operadores financeiros agiam como intermediários e eram responsáveis não só por intermediar o pagamento da propina, mas especialmente por entregar a propina disfarçada de dinheiro limpo aos beneficiários. Em um primeiro momento, o dinheiro ia das empreiteiras até o operador financeiro. Isso acontecia em espécie, por movimentação no exterior e por meio de contratos simulados com empresas de fachada. Num segundo momento, o dinheiro ia do operador financeiro até o beneficiário em espécie, por transferência no exterior ou mediante pagamento de bens.
Além dos funcionários da Petrobras, o esquema tinha também um braço político. As diretorias da Petrobras são ocupadas por pessoas indicadas por partidos políticos. Algumas dessas pessoas, indicadas pelos partidos PP, PMDB e PT entre 2003 e 2012, também foram indiciadas na operação por formarem grupos criminosos, que praticavam lavagem de dinheiro e corrupção passiva, agindo muitas vezes de forma conjunta. Assim, há indícios de que os partidos citados também se beneficiaram de propinas do esquema.
Em março de 2015, quando o Procurador-Geral da República apresentou ao Supremo Tribunal Federal 28 petições para a abertura de inquéritos criminais destinados a apurar fatos atribuídos a 55 pessoas, das quais 49 são titulares de foro por prerrogativa de função (“foro privilegiado”). São pessoas que integram ou estão relacionadas a partidos políticos responsáveis por indicar e manter os diretores da Petrobras. Elas foram citadas em colaborações premiadas feitas na 1ª instância mediante delegação do Procurador-Geral. A primeira instância investigará os agentes políticos por improbidade, na área cível, e na área criminal aqueles sem prerrogativa de foro.
Essa repartição política revelou-se mais evidente em relação às seguintes diretorias: de Abastecimento, ocupada por Paulo Roberto Costa entre 2004 e 2012, de indicação do PP, com posterior apoio do PMDB; de Serviços, ocupada por Renato Duque entre 2003 e 2012, de indicação do PT; e Internacional, ocupada por Nestor Cerveró entre 2003 e 2008, de indicação do PMDB. Para o PGR, esses grupos políticos agiam em associação criminosa, de forma estável, com comunhão de esforços e unidade de desígnios para praticar diversos crimes. Fernando Baiano e João Vacari Neto atuavam no esquema criminoso como operadores financeiros, em nome de integrantes do PMDB e do PT.

Estima-se que foram pagos pelo menos R$ 10 bilhões em propina e que o total de dinheiro desviado possa chegar a mais de R$ 40 bilhões. A operação já prendeu quase 120 pessoas, 80 das quais condenadas até aqui, acusadas, ao todo, de 36 crimes diferentes.